Braslia:
O líder chinês Xi Jinping apelou a “mais vozes” para acabar com a guerra na Ucrânia e um cessar-fogo em Gaza, durante uma visita de Estado à capital do Brasil, informou a mídia estatal chinesa.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, repetiu esses pontos ao se reunir com Xi em uma recepção no tapete vermelho em Brasília, e enfatizou um roteiro conjunto para a paz na Ucrânia que eles estão propondo.
“Num mundo atormentado por conflitos armados e conflitos políticos, a China e o Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar”, disse Lula.
Xi disse querer ver “mais vozes comprometidas com a paz para preparar o caminho para uma solução política para a crise na Ucrânia”, informou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua.
Ele também pediu “um cessar-fogo e o fim da guerra o mais rápido possível” em Gaza, disse a agência.
Quanto à Ucrânia, o roteiro China-Brasil para a mediação da paz foi aprovado pela Rússia – que é aliada da China – mas rejeitado por Kiev e pelos seus apoiantes ocidentais.
O apelo do presidente chinês para a suspensão dos combates em Gaza – onde Israel está a lançar uma ofensiva contra o Hamas – ecoou o que ele e os outros líderes do G20 fizeram durante uma cimeira realizada segunda e terça-feira no Rio.
A declaração conjunta daquela cimeira apelou a um cessar-fogo “abrangente” tanto em Gaza como no Líbano, onde Israel também está a travar uma ofensiva contra o grupo Hezbollah, apoiado pelo Irão.
Na quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU votou uma resolução que apelava a “um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente” em Gaza, mas foi vetada pelos Estados Unidos, aliado de Israel.
China enchendo ‘vácuo’
A visita de Estado de Xi a Brasília mostrou relações mais estreitas entre as maiores economias da Ásia e da América Latina, o que, segundo analistas, também reflecte a diminuição da influência dos EUA.
Os dois líderes assinaram 35 acordos de cooperação em áreas como agricultura, comércio, tecnologia e proteção ambiental.
Xi disse que as relações China-Brasil “estão no seu melhor momento da história” e que os dois países são agora “amigos de confiança”, segundo a Xinhua.
Lula disse acreditar que os crescentes laços Brasil-China “superarão todas as expectativas e abrirão caminho para uma nova fase das relações bilaterais”.
Ele acrescentou que espera receber Xi novamente no Brasil em julho próximo para uma cúpula do BRICS.
O líder chinês teve um papel proeminente na cimeira do G20 e numa da APEC realizada na semana passada no Peru – em contraste com o presidente cessante dos EUA, Joe Biden, que representou uma figura espectral.
Outros líderes olharam para além de Biden, politicamente, para a próxima presidência dos EUA de Donald Trump, que começa em 20 de janeiro.
“Xi Jinping está claramente procurando preencher o vácuo que surgirá após a eleição de Trump, que não valoriza o multilateralismo”, disse à AFP Oliver Stuenkel, especialista em relações internacionais do think tank da Fundação Getulio Vargas.
‘Sinergias’
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral ultrapassando os 160 mil milhões de dólares no ano passado.
A potência agrícola sul-americana envia principalmente soja e outros produtos primários para a China, enquanto o gigante asiático vende ao Brasil semicondutores, telefones, veículos e medicamentos.
Desde que regressou ao poder, no início de 2023, Lula tem procurado equilibrar esforços para melhorar os laços com a China e os Estados Unidos.
Uma visita a Pequim este ano do vice-presidente Geraldo Alckmin foi vista como abrindo caminho para o Brasil potencialmente aderir à Iniciativa Cinturão e Rota da China para estimular o comércio – um pilar central da tentativa de Xi de expandir a influência da China no exterior.
Mas não houve nenhum anúncio nesse sentido durante a visita de Xi. Em vez disso, ambos os líderes falaram em encontrar “sinergias” entre o programa chinês e o programa de desenvolvimento de infra-estruturas do próprio Brasil.
As nações sul-americanas que aderiram à iniciativa de Pequim incluem Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.
Um dos acordos assinados quarta-feira foi a abertura do mercado brasileiro a uma empresa chinesa de satélites, a SpaceSail, que concorre com a Starlink, fundada e dirigida pelo bilionário norte-americano nascido na África do Sul, Elon Musk, que já cobre regiões remotas do Brasil.
Musk tem uma história turbulenta com o Brasil, cujos tribunais forçaram sua plataforma de mídia social X a cumprir as leis nacionais contra a desinformação.
(Exceto a manchete, esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é publicada a partir de um feed distribuído.)