Pensilvânia:
À medida que o dia da eleição se aproxima, com Kamala Harris e Donald Trump empatados, os investigadores e especialistas procuram pistas para prever o resultado.
Mas e se a resposta não estiver em dados políticos ou estratégias de campanha, mas nos instintos de uma parte primitiva do cérebro humano?
Uma nova pesquisa que conduzi com macacos rhesus sugere que, quando se trata de decisões como votar, as pessoas não são tão racionais quanto gostariam de acreditar.
É fácil associar reações instintivas – como a resposta de lutar ou fugir ou afastar-se reflexivamente de uma superfície quente – com o motivo primitivo de sobrevivência. Mas os humanos também têm um cérebro racional que pode reunir e pesar provas, deliberando cuidadosamente em vez de confiar em reações instintivas. A razão pela qual esse cérebro racional parece ser sequestrado por instintos primitivos em situações em que a racionalidade serviria melhor às pessoas é uma das muitas razões pelas quais os meus colegas da neurociência e eu temos estudado macacos rhesus nos últimos 25 anos.
Esses macacos são notavelmente semelhantes às pessoas em termos genéticos, fisiológicos e comportamentais. Estas semelhanças permitiram aos investigadores fazer avanços médicos incríveis, incluindo o desenvolvimento de vacinas para a poliomielite, o VIH/SIDA e a COVID-19, bem como o tratamento de estimulação cerebral profunda para a doença de Parkinson e outras doenças neurológicas.
A minha investigação sobre a preferência de candidatos faz parte de um foco geral em melhorar a compreensão dos cientistas sobre a capacidade de interagir eficazmente com os outros e de navegar em conflitos sociais, os circuitos neurais que a suportam e como estes circuitos podem deteriorar-se devido a doenças ou factores externos como a desigualdade. – tudo para melhor apoiar as pessoas afetadas por estes desafios.
Poder das primeiras impressões
Pesquisas anteriores revelaram que adultos humanos e crianças em idade pré-escolar podem prever com precisão os resultados das eleições após rápida exposição às fotos dos candidatos. Muitas evidências apoiam a ideia de que nosso cérebro primitivo nos leva a formar rapidamente primeiras impressões com base na aparência física – afinal, era a chave para a sobrevivência.
Mas os investigadores ainda não compreendem porque é que este preconceito persiste. Novas pesquisas com macacos rhesus forneceram algumas respostas.
No estudo, que está sendo revisado na revista Proceedings of the Royal Society B, mostramos aos macacos pares de fotos de candidatos das eleições para governador e senador dos EUA, e eles previram corretamente os resultados com base apenas em características visuais.
Especificamente, os macacos passaram mais tempo olhando para o perdedor do que para o vencedor. Este “viés de olhar” previu não só os resultados eleitorais, mas também a percentagem de votos dos candidatos. Os macacos tendiam a olhar para os candidatos com traços faciais mais masculinos – e estes eram os candidatos com maior probabilidade de vencer nas eleições reais. A proeminência da mandíbula teve uma relação direta com a parcela de votos.
Pesquisas anteriores ajudam a explicar o viés do olhar dos macacos. Quando os macacos viam fotos de macacos machos desconhecidos, mas poderosos, eles apenas olhavam brevemente para eles, provavelmente porque os macacos interpretam o olhar fixo como um sinal de agressão. Mas seu olhar permanecia quando era mostrado um macaco macho de baixo status ou uma fêmea.
Essas preferências ficaram à mostra quando mostramos aos macacos as fotos das corridas mais recentes envolvendo Donald Trump. O viés do olhar, movido por instintos primitivos, indicava os vencedores. Os macacos olharam por mais tempo para o adversário democrata na disputa entre Trump e Hillary Clinton. Houve menos preconceito visual no confronto com Joe Biden. E os macacos olharam para Trump durante aproximadamente o mesmo tempo que para Harris. Isso significa que entre os três candidatos democratas mais recentes, com base apenas em características visuais, os macacos previram que Harris tem a melhor chance de vencer Trump.
Uma ressaca evolutiva
As nossas descobertas sugerem que os eleitores reagem instintivamente a sinais de força física – sinais que são igualmente evidentes para os nossos parentes macacos. Esta “ressaca evolutiva” ilustra como características e comportamentos que antes eram essenciais para a sobrevivência persistem mesmo quando já não são relevantes.
A capacidade dos macacos de prever vencedores com base apenas em atributos físicos desafia a noção de que os humanos evoluíram para além de julgamentos superficiais na selecção de liderança. Para aqueles que se orgulham de tomar decisões racionais, especialmente em decisões vitais como votar, é uma descoberta surpreendente.
É evidente que as escolhas das pessoas não se baseiam apenas em pistas visuais. Mas as evidências sugerem que tais fatores podem ter mais influência do que se pensa. Quando você entra na cabine de votação, parte do seu cérebro pode estar recorrendo a instintos antigos, avaliando inconscientemente quem parece ser o melhor líder da tribo.
Permanecendo racional, não primitivo
Aumentar a consciência destas preferências primárias é o primeiro passo para reduzir a sua influência.
As campanhas políticas já exploram estes instintos, destacando a força física e a assertividade de um candidato. Como eleitores, podemos contrariar os seus esforços apoiando-nos na capacidade do nosso cérebro racional para compreender e avaliar as suas políticas e experiências – algo que os nossos antepassados primitivos não conseguiram fazer.
As técnicas para escolher de forma racional e não instintiva incluem expor-se a diversas perspectivas, questionar activamente os seus pressupostos e considerar os resultados das políticas a longo prazo. Tais passos deliberados para tomar decisões informadas assumem uma nova importância quando você entende como seu cérebro pode ser influenciado nas urnas por preferências desatualizadas.
É claro que os eleitores não são macacos. Mas os instintos subjacentes que as pessoas partilham com os nossos parentes primatas ainda podem moldar subtilmente as nossas decisões.
Reconhecer o papel destas pistas antigas pode ajudar as pessoas a tornarem-se mais intencionais na forma como exercem o seu poder nas cabines de votação. À medida que a democracia evolui, também deve evoluir a compreensão dos humanos sobre como se envolver com ela.
(Autor: Michael Platt, Professor de Marketing e Psicologia e Neurociências, Universidade da Pensilvânia)
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.